sábado, 11 de julho de 2015

Penduricalho VII

Se os olhos são a janela da alma, preciso fechar as minhas urgentemente. Não quero que o mundo veja o que carrego aqui dentro. Preciso esconder-me, proteger-me, amparar-me em mim mesma. Preciso de um momento só comigo, com meus medos, minhas dores, meu eu mais profundo. Quero gritar internamente e ouvir o eco repetidas vezes. Olhar a escuridão e abraçar meu espírito. Presa à minha própria loucura.

Nessa menina que mora em mim, há um pouco de mulher. Não sou madura, não sou infantil. Não sou valente, não sou covarde. Sou apenas um pequenino ser, que deságua águas selvagens, mais do que eu poderia, mais do que eu suportaria. Meus olhos tristes procuram um pouco de razão e encontra apenas um grande vazio. Como um horizonte infinito. Um deserto somente, onde não há nada além de mim mesma.

Um abraço. Verdadeiro, saudosista, afetuoso. Somente um abraço. Apertado, sincero, aquietador. E minha alma dormiria, calma e tranquila.

Penduricalho IX

FORTALEZA

Aí estão todos os meus muros
Desmoronando-se um a um
Percebo-me sob escombros
A chuva toma-me pela mão
Um lamento me acompanha
É esta a música triste que ouço
Como a querer conduzir-me
Por entre cacos e entulhos

Com meus olhos emudecidos
Procuro onde esconder-me
Quão paradoxal pode ser a vida
Um esconderijo onde há vazio
Mas é minha regra mais brutal
Aquela que rege meus dias
Os dias de intenso negrume
Dias que duram minutos

Indubitavelmente em solo só
Um lugar onde me pertenço
Onde conheço meus tijolos
Quebrados, inteiros, pedaços
Partes de muitas tempestades
Ventos uivantes que ressoam
Como vozes do desespero
Derrubando este meus muros
Que teimam em erguer-se outra vez.




terça-feira, 12 de novembro de 2013

Penduricalho VIII

Liberdade. Ela existe de fato? A gente tem tantos meios de expressão, mas se sente tolhido. Todo mundo à espreita, esperando para saber um pouco mais, sugar um pouco mais, vampirizar tua vida. E você precisa engolir sem direito de falar. Eu quero falar, eu preciso falar. Meu peito quase explode de vontade de berrar ao mundo um grande punhado de verdades, ainda que elas sejam somente as minhas verdades, mas elas tem todo o direito de serem ditas. Deixe essa represa arrebentar, essas águas caudalosas seguirem o curso que quiserem. Preciso me esvaziar, antes que esse furacão tome conta de mim. Nãoo quero sol, quero chuva. Quero vento, quero tempestade. Quero que tudo seja varrido de dentro de mim. Necessito limpar minhas veias, meu sangue corre feito águas de um rio selvagem. Sinto no peito um calor de quem está em brasas. Um grito. Talvez um grito me aliviria o peito, mas nem isso eu posso. Devo apenas me resignar e aceitar. Entender. Compreender. Não. Hoje eu não quero compreender ninguém, entender ninguém. Quero apenas me deixar explodir e sentir o alívio manso das águas que ficam tranquilas depois das corredeiras.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Penduricalho VI

Sem saber muito sobre o que escrever, mas querendo fazê-lo. Me veio à cabeça o sentimento materno. Amar profunda e genuinamente. O maior amor sincero do ser humano. O que não espera nada. O que se esvazia de si mesmo para dar-se a outro, sem reservas. Amar por amar. É assim o amor materno. Puro, livre de conceitos, de expectativas.

Outro dia alguém da família adotou uma criança. Parei para pensar em dois lados dessa moeda. O amor da mãe que espera mas não consegue ter. Que quer dar amor, tem o amor guardado no peito, esperando para explodir. Mas não consegue, porque o corpo não está na mesma sintonia do coração. A cruel matéria humana trazendo à tona uma fragilidade inconveniente. Do outro lado a mãe que pode, que teve, que experimentou, mas não a vida não acompanha o corpo que não acompanha o coração. Porque só um coração com grande independência do físico consegue ser capaz de tamanho desprendimento. Dar um filho. Repito: dar um filho. Quem pode julgar? Quem poderia dizer o que o futuro reservaria para a criança se não tivesse a oportunidade de um lar mais harmonioso, mais próspero, mais feliz? Há que se pensar na dor. Porque acredito que há uma dor muito grande nesse gesto. Ainda que uma dor velada, ou uma dor inconsciente. Assim como o corpo sente falta no momento em que a vida lhe é arrancada ao cortar o cordão umbilical, também sente-se falta quando você tira de seus próprios braços e doa a outro. Dor e amor, lado a lado. Os dois para o mesmo ser. Doar, que é um gesto tão bonito, de repente torna-se um gesto quase cruel. Um pouco difícil a ausência de julgamento, mas me ponho a pensar no direito que tenho de fazê-lo.

Teus olhinhos tão pequenos
Um brilho triste de quem espera o que não tenho
Se te dou o que precisas, te perco para o mundo
Se te nego o que me pedes, perco a ti para a vida...

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Penduricalho V

"Mas a exclusão, que me impus, dos fins e dos movimentos da vida; a ruptura, que procurei, do meu contacto com as coisas — levou-me precisamente àquilo a que eu procurava fugir. Eu não queria sentir a vida, nem tocar nas coisas, sabendo, pela experiência do meu temperamento em contágio do mundo, que a sensação da vida era sempre dolorosa para mim. Mas ao evitar esse contacto, isolei-me, e, isolando-me, exacerbei a minha sensibilidade já excessiva. Se fosse possível cortar de todo o contacto com as coisas, bem iria à minha sensibilidade. Mas esse isolamento total não pode realizar-se. Por menos que eu faça, respiro, por menos que aja, movo-me. E, assim, conseguindo exacerbar a minha sensibilidade pelo isolamento, consegui que os factos mínimos, que antes mesmo a mim nada fariam, me ferissem como catástrofes. Errei o método de fuga. Fugi, por um rodeio incómodo, para o mesmo lugar onde estava, com o cansaço da viagem sobre o horror de viver ali."

Pessoa. Fernando Pessoa. Às vezes me vejo em completa surpresa ao descobrir que alguns poetas são capazes de ser atemporais. Capazes de falar com tanta destreza acerca dos sentimentos do ser humano. Torna seus anseios os nossos anseios. Você lê e se identifica, imagina que poderia ter escrito aquilo se fosse tão talentoso quanto. Dia desses me dei conta que sei escrever melhor quando estou envolta em sentimentos não tão nobres e alegres. Não sei escrever na felicidade, não sei falar de ser feliz. Tenho eu um lado obscuro que sobrepõe-se ao lado bom? Talvez. Tenho uma certa aproximação com a tristeza... ela me soa tão familiar. Quase aconchegante. Quando me vem a felicidade fico me perguntando até quando ela durará. Ela não me atrai confiança. Parece que a qualquer momento ela se vai, e te deixará num limbo de tristeza e vazio.

Eu sinto como um vento frio, que sopra sobre a minha pele, levando todo o calor da felicidade. Diante dos meus olhos é só resignação pelas coisas que não posso mudar. E o que realmente podemos mudar? Nem em nós mesmos. Doce é a ilusão de que somos capazes de mudar alguma coisa. Não somos. Tente mudar. Quando você se der conta, lá no fundo, aquele seu velho eu te cumprimentará, lembrando-o que você continua ali, no mesmo lugar de antes. Apenas aprendemos a nos adaptar, a esconder, a disfarçar. E eu sufoco. Sufoco o meu eu, que quer sair, voar, amar, abraçar, olhar, tocar. Sufoco meu eu que sente saudade. Sufoco. Sufoco porque não sigo a evolução humana, porque tenho algo de diferente, que perpetua meus sentimentos, que os mantém intactos. Por que não sou como os outros? Por que não sigo a vida deixando que ela se encarregue de colocar em mim os sentimentos de cada etapa. Eu fecho os olhos para as etapas. Paro no tempo. Fico presa no ontem. Como uma criança que fica olhando a vida passar e ela continua ali, pura, doce. Olho a vida passar e me firo, porque não consigo acompanhá-la. Porque a dureza da vida me atinge tão profundamente que recolho-me em mim, para tentar amenizar com um disfarce a dor que ela me causa. Chaplin sabia exatamente do que eu falo. "Sorrir quando a dor te torturar". Culpo-me, porque tenho minha fé, sei em quem tenho crido, mas não consigo evitar essa tristeza. Sou triste por natureza. Por uma natureza perversa, cruel. E eu sorrio.

Seria muita pretensão me colocar no rol dos grandes sofredores? Seria muito exagerado? Às vezes acho que me superestimo demais, elevando-me ao patamar de artista. Porque todo artista sofre. A sensibilidade exacerbada dita por Pessoa no texto do início é algo do artista. Essa sensibilidade que sai pelos poros, pelos olhos, pela boca, pelos ouvidos. Tudo lhe é sensível.

Abandonem minha casa, que minhas janelas sejam abertas e eu possa respirar um pouco. Sinto-me sufocada em mim mesma. Que os disfarces sejam postos de lado por um tempo, para que eu possa olhar o sol através dessas nuvens escuras. Preciso de calor. Quero sorrir, mesmo que seja para esconder a dor. Num surto psicótico quero expulsar toda essa natureza morta dentro de mim. Ouçam a voz do bem. É um basta. Como se falar da minha tristeza a faça esvair-se, escorrer por entre meus dedos enquanto eles digitam minhas lamúrias. Então que saiam todas!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Penduricalho IV

"Saudade é carta que não chega, foto que desbota, pétalas que murcham..."*
Trecho do poema de Luiz Monaro Soares

Como definir a saudade? Como dizer em palavras o vazio que se sente ao pensar em alguém que já se foi. A nostalgia que se sente ao pensar em um lugar bonito já visitado. Não, eu não consigo. É fato que a saudade é facilmente identificada, mas como traduzir exatamente? E há tantos tipos de saudade! A saudade do que partiu e não volta mais. Já ouviu falar em saudade do que está ao seu lado? Essa é a pior saudade, aquela que dói mais, porque você sabe tudo o que poderia ser e não é. Você olha para o lado, está ali, mas não está. Parece loucura, não deixa de ser. Sentir saudade do que poderia ser e não é mais. Sempre tivemos a ideia de que saudade só se sente do que está longe de nós. Não deixa de ser, mas o que está longe pode estar perto ao mesmo tempo. Há que se questionar a saudade. Há quem diga que existe a saudade boa. Acho pode ser considerada boa quando num futuro próximo você sabe que poderá suprir a vontade. Aí sim, que deleite! Sentir saudade sabendo que ela tem data de validade. Tem saudade que dói no peito, uma pequena dor aguda, uma leve pontada, apenas para te lembrar que você não é detentor daquilo que deseja. É um sentimento cruel, não sente pena de ninguém. Crianças sentem saudade. Idosos sentem saudade. Qualquer um sente saudade. É um sentimento de todos, uma dor pública.

Poesias, músicas, até obras de artes. Todos tentam traduzir a saudade.  Quem consegue?

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

"Definir a palavra saudade?
Eu não ousaria.
Não é à toa, que ela nem é traduzida.
Saudade não se traduz, se sente.
Ela faz chorar, faz rir, faz amar, desamar.
Saudade é abraço e carinho, quando saciada,
mas é também ausência.
Às vezes, suprida.
Outras vezes, eterna.
Saudade é carta que não chega,
foto que se desbota,
pétalas que murcham.
Saudade de lugares visitados,
de cores e aromas,
de amores passados.
Saudade é avião que partiu,
é um último adeus,
é o primeiro beijo.
Saudade é tema de canção,
é o mote do poeta,
em versos rimados ou não.
Às vezes, gostosa,
muitas vezes, dolorosa.
Muito mais que uma palavra,
mais do que um simples substantivo.
Saudade é um forte sentimento,
e enquanto sentimento, eu a sinto.
E no meu caminhar,
Ah, saudade...
A saudade eu vivo!"

(Luiz Monaro Soares)

terça-feira, 30 de julho de 2013

Penduricalho III

* Hahahahaha... risos, muitos risos para meu último post. Definitivamente eu não sou uma pessoa de seguir à risca todos os planos que faço na vida. É fato que durante o curso alguns mudarão, seja por vontade própria, seja por acontecimentos alheios à ela. Os planos de viagem mudaram. DE NOVO. Risos. Voltaram ao plano original, Nova York. E que maravilha! A viagem foi incrível, sem palavras para descrever. Aquela cidade tem uma luz, um ar, um tudo diferente. Já quero voltar. Antes de sair de lá já sentia essa vontade de voltar.

No próximos posts trago as fotos, falo dos lugares, dos fatos engraçados. Quero guardar essas lembranças registradas em algum canto antes que eu esqueça, rs.


* Esses dias comecei a ler Fortaleza Digital, do Dan Brown. Atrasadérrima, eu sei, mas está valendo. Queria saber se ele é isso tudo que falavam na época (hoje não ouço mais tanto sobre ele). Ainda estou bem no começo do livro, mas é fato que a riqueza de detalhes me impressiona um pouco. Obviamente não entrei no Sr. Google pra saber se tudo o que ele descreveu como rotina de trabalho da NSA (National Security Agency - EUA) é verdade, mas li que ele entrou em contato com um ex-agente da NSA em busca de material para escrever a história. Admiro, viu? Provavelmente esse ex-agente mandou-lhe uma bela descrição detalhada de boa parte do funcionamento da agência, mas saber incluir tantas explicações técnicas em meio ao enredo de uma história é de tirar o chapéu. Ainda vou descobrir se o desenrolar da história será bom de verdade, mas ao menos ele sabe sobre o que escreve. Talvez isso seja um bom sinal.